Chegou o mês de Setembro, tempo de transições.

Começa-se a reduzir o número de idas à praia e a aumentar o tempo dedicado a tarefas quotidianas, familiares e profissionais. Também em termos agrícolas se inicia uma nova época, com as culturas de Outono-Inverno a marcarem presença em campos e hortas.

Para que a mudança de registo não seja tão abrupta, optámos por abordar, este mês, uma cultura que pode instalar ao longo de todo o ano: o agrião!

Um primeiro aspeto a ter em conta é que, falando de agrião, poderemos estar a referir-nos a três espécies distintas:

• Nasturtium officinale (W. T. Aiton), conhecido comummente como Agrião de Água, cuja origem de dispersa entre a Europa e a Ásia Central;

• Barbarea verna (Mill.) Asch, popularmente designado por Agrião de Jardim, nativa em Portugal;

• Lepidium sativum L., o vulgar Agrião Mastruço, ou de folha pequena, originária da região ocidental da Ásia;

Se as espécies apresentam diferenças assinaláveis em termos da fisiologia das plantas, o facto é que a sua utilização acaba por ser semelhante em termos culinários e de saúde.

A composição nutricional do agrião cru, para cada 100g, é conforme a que se descreve em seguida:

• 23Kcal;
• 91,2g de água;
• 3,4g de proteína;
• 3g de fibra;
• 0,9g de lípidos;
• 0,4g de hidratos de carbono;
• 1948mg de caroteno;
• 77mg de vitamina C;
• 230mg de Potássio (K);
• 198mg de Cálcio (Ca);
• 56mg de Fósforo (P);
• 49mg de Sódio (Na);
• 15mg de Magnésio (Mg);
• 1,7mg de ferro (Fe);
• 0,2mg de Zinco (Zn).

De estatura tão pequena, mas com uma composição como a descrita, o consumo de agrião tem o seguinte contributo para a saúde e bem-estar:

• O elevado teor de fibra permite a regulação do trânsito intestinal e, sem simultâneo, a regulação dos níveis de açúcar no sangue, sendo relevante no controlo da diabetes;
• O aumento da sensação de saciedade, originada pelas fibras constantes no agrião, promove a ingestão de menor quantidade de alimentos, ajudando, assim a regular o peso;
• A presença de vitamina C contribui para o reforço geral do sistema imunitário, para uma ação anti-inflamatória e para processos metabólicos com reflexo na longevidade e firmeza da pele;
• Também o nível de vitaminas disponibilizados, associado ao excelente nível de minerais, promove a saúde oftálmica;
• A excelente composição do agrião, em termos de teores de microelementos/minerais, promove um equilíbrio metabólico geral, auxiliando na promoção da saúde sanguínea e óssea.

Não há, portanto, motivos para não dedicar algum do seu tempo e algum do espaço da sua horta, a esta cultura. Consulte aqui as caraterísticas de cada espécie e, entre folhas maiores ou mais pequenas, sabor mais ou menos intenso, defina qual a que prefere.

Feita esta seleção, verifique se consegue reunir as seguintes condições de produção.

Tome nota:

> Sementeira

A sementeira pode ser realizada em local definitivo ou em tabuleiros de germinação; esta segunda opção deverá ser tida em conta particularmente no que diz respeito ao agrião de água; a sementeira deverá ser feita até 1cm de profundidade e com um espaçamento de 15cm entre plantas e de 25cm entre linhas;

> Germinação

A germinação do agrião pode ser reduzida; apesar disso, conte com pelo menos 10-15 dias para ver surgir as primeiras plantas;

> Transplante

No caso de realizar a sementeira em tabuleiro, deve realizar o transplante para o lugar definitivo quando as plântulas apresentarem mais de quatro folhas;

> Infestantes

Deverá prestar atenção constante à presença de plantas infestantes, que concorrerão com o agrião pela água e nutrientes disponíveis;

> Operações

Além disto, considerando o desenvolvimento da cultura, poderá ser necessária a realização do corte da rama em excesso;

> Colheita

A colheita pode iniciar-se aproximadamente 60 dias após a sementeira, folha a folha, mantendo a restante rama na terra, para que a planta continue a produzir.

Já no que diz respeito às condições sanitárias, as principais doenças e inimigos da cultura são os seguintes:

×  Míldio (Peronospora destructor): pode surgir desde os primeiros estágios de desenvolvimento da planta, originando o apodrecimento dos tecidos, a inviabilidade produtiva e/ou a perda de capacidade conservação; caso a identifique deve limitar a adubação azotada, promover a rega no solo, remover e queimar todas as plantas com sintomas;

×  Afídeo (Brevicoryne brassicae), pequenos insetos que se alimentam do sistema vascular das plantas, perfurando os tecidos, afetando assim o desenvolvimento e resistência da mesma; funcionam também como vetores de transmissão de diversos vírus;

×  Tripes (Thrips tabaci): inseto que se aloja nas bainhas e limbos foliares, alimentando-se do sistema vascular das plantas, reduzindo o seu desenvolvimento e, consequentemente, o seu peso e qualidade; este inseto funciona também como vetor de transmissão do vírus TSWV - Lagarta do alho francês;

×  Lesmas e caracóis: ratando-se de uma herbácea de rápido desenvolvimento, as lesmas e os caracóis tiram também proveito desta cultura! Quando fizer a sementeira, tente remover todas as lesmas e caracóis que encontrar e, durante o ciclo cultural da planta, mantenha atenção à proliferação destes moluscos. Se verificar que a população está a ter consequências nefastas na produção, poderá aplicar um moluscicida.

×  Algas diversas, que competirão pelas condições de produção que instalará para o agrião; há que monitorizar e remover.

Para alguns destes problemas encontrará soluções aqui.

Para outros encontrará orientação específica online.

Mantemo-nos deste lado, ao seu lado, com as mãos na terra! 

Votos de boas sementeiras e de boas colheitas!

A Equipa da Hortaria