Destaque de Março: falemos sobre o espinafre!

Chegámos a Março e, por isso, damos destaque a uma nova cultura: o espinafre!
O espinafre (Spinacea oleracea L.) é uma planta herbácea, anual, pertencente à família Amaranthaceae, originária da Ásia, região do Irão. Devido à sua grande adaptabilidade a diferentes longitudes, e considerando a existência de importantes rotas comerciais da Ásia para todo o mundo, a sua disseminação foi abrangente e definitiva.
Antes de avançarmos, uma clarificação: uma outra espécie, a Tetragonia tetragonoides (Pall. Kuntze), já da família Aizoaceae, é também designada por espinafre, neste caso, da Nova Zelândia. Se o cultivo é semelhante, já a resistência à seca e a temperaturas elevadas, tal como a forma das folhas e o sabor, são diferentes.
Esta herbácea pode atingir 30-60cm de altura, apresentando folhas de cor verde intenso, uniforme e intenso, ovais ou triangulares, com 2-30cm de comprimento e 1-15cm de largura. Consoante a variedade o espinafre poderá atingir os 0,5-1Kg.
Em termos de sabor esta herbácea carateriza-se por um equilíbrio entre a amargura da beterraba e o salgado da acelga (outras plantas da mesma família Amaranthaceae), exibindo ainda um travo doce muito caraterístico.
Esta organolética caraterística pode ser apreciada sem grandes preocupações em termos de calorias, já que 100g de espinafre cru apresentam apenas 22Kcal, sendo uma importante fonte de vitaminas A, B2, B6, C, E, K, de minerais como o magnésio (Mg), o ferro (Fe), Cálcio (Ca), Potássio (K) e Fósforo (P). Fazendo uma ponderação em termos de peso, 92% da sua composição é água!
Considerando o acima exposto, não é de admirar que o consumo de espinafres apresente os seguintes benefícios:
- Saúde oftalmológica: a presença de antioxidantes como a luteína e a zeaxantina, bem como de betacaroteno e de vitamina A, permite prevenir olhos secos, cegueira noturna ou degeneração de tecidos;
- Saúde sanguínea e cardíaca: a presença de ferro auxilia o processo de formação de hemoglobina, componente de glóbulos vermelhos, que beneficiam também da presença de ácido fólico; A presença de magnésio, de potássio e de nitratos permite o relaxamento de vasos sanguíneos; Por outro lado, a presença de vitamina C, de luteína e de compostos polifenólicos garante uma ação antioxidante que beneficia a saúde das artérias, reduzindo o risco de enfarte e de derrame cerebral;
- Saúde óssea: o espinafre é uma importante fonte de cálcio (Ca), magnésio (Mg) e fósforo (P), elementos essenciais no fortalecimento da estrutura óssea, assumindo assim um importante papel na prevenção de doenças como a osteoporose;
- Saúde neurológica: a ação anti-inflamatória de alguns constituintes do espinafre, tal como a vitamina E, permitem a manutenção de estruturas neurológicas, contribuindo para a prevenção de doenças neurodegenerativas.
Há, apesar de tudo, um outro constituinte do espinafre que compromete a eficácia destas vantagens: o ácido oxálico. Durante o processo digestivo o ácido oxálico forma o oxalato ferroso, que origina a excreção deste elemento através do sistema urinário. O oxalato interage também com o cálcio, o que poderá dar origem a cálculos renais.
Feita esta apresentação, veremos de seguida quais as condições que esta planta exige para o seu correto desenvolvimento.
Tome nota:
- Temperatura: o espinafre consegue suportar temperaturas negativas, mas não tem grande tolerância a temperaturas elevadas; A temperatura ideal para germinação é de 20ºC, sendo que suspende o seu desenvolvimento se confrontado com temperaturas abaixo dos 5ºC; temperaturas acima dos 27ºC são prejudiciais à planta;
- Exposição solar: trata-se de uma planta que não reage mal à exposição solar direta. No entanto, em zonas que registam temperaturas elevadas, prefere locais com meia-sombra ou sombreados;
- Solo: solos básicos ou alcalinos (pH entre 6-7,5), pouco compactos, ricos em matéria orgânica, húmidos e com boa drenagem;
- Ciclo: 30-60 dias pós-colheita;
- Desenvolvimento vertical: o espinafre atinge uma altura entre os 40cm e os 60cm.
Em termos de operações culturais, trata-se de uma cultura que não é exigente, como se pode ver pela seguinte listagem de tarefas:
> Sementeira
O espinafre pode ser semeado ao longo de todo o ano, havendo variedades mais adequadas para as épocas de Primavera-Verão e de Outono-Inverno. A sementeira deve ser diretamente no local definitivo, cobrindo a semente com aproximadamente 1cm de solo/substrato; Deve deixar um espaçamento de aproximadamente 10cm entre sementes por forma a assegurar plantas bem desenvolvidas; Considere uma adubação de fundo quando realizar a sementeira.
> Rega
Deve adotar um ritmo de rega que permita que o solo se mantenha sempre ligeiramente húmido (não encharcar!), pelo que a rega diária é recomendada, podendo ser ligeiramente reforçada em dias de temperatura muito elevada; A abundância de água disponível, combinada com temperaturas elevadas, poderá fomentar o espigamento do espinafre, encurtando assim o ciclo da planta.
> Monda
Considerando as condições ideais de desenvolvimento desta herbácea, terá que acompanhar de perto o surgir de plantas infestantes que competirão com a cultura. Sempre que possível deve retirá-las deste canteiro.
> Colheita
Pode colher as folhas do espinafre à medida que as vai consumindo, até porque a sua capacidade de conservação é reduzida; Poderá começar a colher por volta dos 40 dias, quando a planta tiver, pelo menos, 6 folhas, começando pelas folhas externas, da base, e com maior desenvolvimento.
Falta ainda abordar as pragas e doenças que normalmente surgem associadas a esta cultura:
× Lesmas e caracóis: tratando-se de uma herbácea de rápido desenvolvimento, as lesmas e os caracóis tiram também proveito desta cultura! Quando fizer a sementeira, tente remover todas as lesmas e caracóis que encontrar e, durante o ciclo cultural da planta, mantenha atenção à proliferação destes moluscos. Se verificar que a população está a ter consequências nefastas na produção, poderá aplicar um moluscicida;
× Míldio: tratando-se de uma cultura folhosa, herbácea, apta para produção ao longo de todo o ano, com requisitos de humidade no solo e de temperatura específico, o surgir de fungos será um risco presente. O míldio poderá surgir nos espinafres, prejudicando o seu desenvolvimento e impossibilitando a sua colheita. Poderá escolher variedades resistentes a esta doença ou aplicar meios de combate como os fungicidas;
× Afídeos: pequenos insetos também conhecidos como pulgões ou piolho das plantas; são uma das pragas com maior incidência na cultura do espinafre. Uma das formas mais simples de os combater é através da pulverização da cultura com uma solução de água e sabão. Esta solução criará uma superfície nas folhas dos espinafres, protegendo-as da ação dos afídeos. Pode utilizar inseticidas.
Considerando o tipo de planta em causa, muitas vezes a melhor solução, em pequenas áreas de cultivo, será a remoção e destruição das plantas afetadas, uma vez que a disseminação destes problemas, entre plantas é geralmente rápida. Uma vez mais, acompanhe a cultura desde a sementeira e tome as decisões de prevenção à medida que entender ajustado.
Se quiser ter espinafres frescos, literalmente à mão de semear, para as suas saladas de Verão, para os seus smoothies ou para qualquer outro aproveitamento, está na hora de preparar o terreno e… semear!
Cá estaremos para o acompanhar.
Já agora, como correu a sementeira de tomate? Partilhe connosco o desenvolvimento das suas culturas!
Votos de boas sementeiras e de boas colheitas!
A equipa da Hortaria