Destaque de Julho: falemos sobre o feijão!
Novo mês, nova cultura em destaque!
Chegámos ao mês de Julho, temos dias longos, sol e temperaturas que convidam a estarmos mais tempo no exterior.
Tanto os jardins como as hortas precisam de atenção: há que controlar a água disponível para as plantas, controlar as infestantes e, por outro lado, acompanhar a saúde das culturas.
Há uma outra tarefa a realizar: colher o que já semeou nos meses passados e disfrutar das cores e sabores que esta época nos trás!
Se para além de tudo isto pretende iniciar um novo projeto, deixamos como sugestão a instalação da cultura em destaque este mês: o feijão!
Apesar de presente na história de Roma, Grécia e Egito, tal como grande parte das culturas que hoje são comuns, foi com as grandes viagens na época dos Descobrimentos, ou seja, no século XVI, que o feijão começou a assumir maior relevância em Portugal. Não é isto de estranhar uma vez que o “berço” desta cultura se encontra na América Central e do Sul.
A espécie com maior relevância a nível global é a Phaseolus vulgaris L., pertencente à família das Fabaceae, sendo que, também a Vigna unguiculata L., pertencente à mesma família, marca presença com frequência à nossa mesa (feijão frade!).
Em termos nutricionais, o feijão apresenta 100Kcal por 100g, sendo uma excelente fonte de vitaminas (nomeadamente do complexo B), minerais (Ferro, Zinco, Cálcio), antioxidantes, ácido fítico e compostos fenólicos, disponibilizando igualmente pequenas quantidades de ácidos gordos do tipo ómega-3. É por isso possível associar os seguintes benefícios ao seu consumo:
- Controlo do apetite devido ao elevado teor de proteínas, fibra e hidratos de carbono de absorção lenta;
- Prevenção na saúde oftálmica devido à presença de luteína e zeaxantina;
- Prevenção de doenças cardiovasculares;
- Prevenção face a alguns tipos de cancro;
- Prevenção relativamente à diabetes, dada a sua capacidade de redução do índice glicémico;
- Proteção de células devido às capacidades anti-inflamatórias e anti-oxidantes
O feijão pode ser de trepar ou rasteiro, de vagem ou de grão, verde, amarelo, castanho, púrpura, liso ou riscado! A diversidade é tanta que deve definir, antes de mais, o que pretende.
Caso pretenda semear feijão para consumir enquanto feijão-verde, deve escolher variedades de vagem (a parte da planta que vai consumir). Se pretende produzir feijão para consumir enquanto grão, como por exemplo em feijoada, deverá escolher variedades cujas características se orientem nesse sentido.
Feita esta seleção, há que avaliar o espaço e a disponibilidade que existe… Tem uma horta com espaço e tem tempo suficiente para realizar operações culturais? Pode optar pelas variedades de trepar, que exigirão, por exemplo, tutores (estruturas de apoio ao crescimento vertical da planta). Caso pretenda semear alguns feijões num espaço mais limitado, como um vaso, e tem menos disponibilidade para acompanhar a cultura, será preferível optar por uma variedade rasteira.
Tome nota:
Se já identificou qual a variedade que quer semear, é importante perceber quais as condições ideais para o desenvolvimento da planta. Assim:
- A temperatura ideal para desenvolvimento da planta encontra-se entre os 20ºC-30ºC; Sendo sensível a geadas, a sementeira deve ser feita quando a temperatura do solo for superior a 10ºC;
- O fotoperíodo deve ser crescente, ou seja, desde a sementeira à colheita o número de horas de luz, em cada dia, deve aumentar progressivamente (daí ser uma cultura de Primavera-Verão);
- O local de sementeira deve permitir exposição solar direta e abrigo perante ventos;
- O solo deve ser de textura arenoargilosa, fértil, rico em matéria orgânica, arejados, bem drenados mas húmidos e com pH de 6-6,5.
Estão reunidas as condições para instalar a cultura? Vamos então ver qual o acompanhamento cultural que deve proporcionar:
> Sementeira
Semear a 3cm de profundidade, respeitando um compasso de aproximadamente 40cm x 70cm.
> Rega
Não deve regar extensamente até à fase da floração, assegurando, no entanto, que a planta tem sempre humidade disponível no solo; A partir da primeira floração deve assegurar rega regular sem nunca encharcar o solo; (a planta é sensível à seca e ao encharcamento!).
> Operações
Após a germinação da planta deve fazer uma sacha, seguida de amontoa até que surjam as primeiras folhas; com estas operações deverá garantir o controlo de infestantes.
> Tutoragem
No caso de variedades de trepar deverá instalar estruturas que sirvam de apoio ao crescimento da planta, os chamados tutores; considerando que a planta pode atingir 2,0m de altura, os tutores deverão ter, pelo menos, esta altura; consegue encontrar online informação sobre diferentes soluções de tutoragem.
> Colheita
A colheita poderá começar 60-90 dias após a sementeira, dependendo das condições locais e da variedade em questão; A colheita das vagens deve acontecer assim que estas estejam devidamente desenvolvidas, sem danificar a planta; Já se tem como propósito o grão, deverá aguardar até este estar maduro e seco.
Em termos de fitossanidade, trata-se de uma cultura que pede algum acompanhamento. O controlo da humidade deve ser regular, tal como o assegurar que tanto as variedades rasteiras como as de trepar se desenvolvem com o arejamento adequado. Deve ter particular atenção às seguintes pragas e doenças:
PRAGAS:
× Rosca (Agrotis Ipsilon), enquanto traças podem colocar até 1000 ovos na página inferior das folhas; Provocam feridas nos tecidos das plantas, levando a perda de vigor e, eventualmente, à murchidão;
× Cigarrinha Verde (Empoaska Kraemeri), perfuram os tecidos das plantas, alimentando-se da seiva; ao fazerem-no injetam substâncias nocivas e permitem a entrada no sistema vascular de outros organismos; provoca perda de vigor e enfezamento da planta;
× Mosca Branca (Bemisia tabaci), insetos transmissores do Vírus do Mosaico Dourado;
× Tripes (Thrips palmi), pequenos insetos que se alimentam dos tecidos da planta, atuando igualmente como vetores para a propagação de outros agentes nocivos; Pode originar manchas brancas/prateadas na planta e consequente seca total;
× Mosca Mineira (Lirimyza huidobrensis), ao eclodirem as lagartas formam galerias na derme das folhas, podendo inclusivamente afetar o sistema vascular; origina perda de atividade fotossintética e perda de vigor;
× Lagarta das vagens (Maruca vitrata), na fase larvar e enquanto lagarta alimenta-se dos tecidos da planta, provocando feridas que permitem o acesso a agentes nocivos, bem como a perda de viabilidade;
× Lesmas e caracóis.
DOENÇAS FÚNGICAS E VÍRICAS:
× Esclerotínia (Sclerotinia sclerotiorum), fungo que origina a murchidão das plantas;
× Fusariose (Fusarium oxysporum): fungo presente nos solos, infetando as plantas através da raiz; origina o apodrecimento do caule e à perda de folhas, inviabilizando o normal desenvolvimento da planta;
× Antracnose (Colletotrichum lindemuthianum), fungo que afeta folhas e caule da planta, com lesões escuras, estendendo-se aos tecidos adjacentes, debilitando a planta de forma severa;
× Mosaico Dourado (BGMV), vírus que provoca a deformação da planta e clorose das nervuras, seguida de pequenas manchas amareladas; origina o subdesenvolvimento das plantas e progressiva deformação;
× Cancro Bacteriano (Xanthomonas campestris), os primeiros sintomas manifestam-se pela presença de pequenos pontos negros nas folhas, que se alastram e causam a morte dos tecidos; Nos caules e nervuras surgem fissuras de cor negra; a viabilidade da planta é afetada de forma severa.
Para alguns destes problemas encontrará soluções aqui.
Para outros deverá pesquisar informação online e identificar soluções específicas.
Aproveite os dias de sol que se apresentam, contacte com a terra, viva as cores que as culturas nos trazem! Envie-nos fotografias da sua horta.
Votos de boas sementeiras e de boas colheitas!
A equipa da Hortaria