Destaque de Fevereiro: falemos sobre o tomate!
Estamos quase a chegar à Primavera e, por isso, podemos pensar em subida de temperatura, no aumento do número de horas de sol diárias, na redução dos níveis de precipitação, até chegarmos ao Verão!
Com estas condições, abre-se um novo leque de culturas próprias desta época, entre elas o tomate. A diversidade de variedades de tomate é tal que podemos escolher a forma, a cor, o tamanho do fruto, o sabor e até se queremos semear em vaso ou em terreno aberto. Como estamos a falar de plantas sabemos já que, com tanta diversidade, tendencialmente encontramos também maior exigência no cuidado e acompanhamento necessários. Vamos, em seguida, tentar dar a conhecer um pouco mais sobre esta cultura.
O tomate é o fruto do tomateiro, planta da família das solanáceas e do género Solanum lycopersicum L. (anteriormente designado Lycopersicon esculentum Mill). Originária da América Central e do Sul, só no século XVI se verificou a disseminação da cultura do tomate pelos diferentes continentes, desde a Ásia à Europa, inicialmente com um carácter ornamental, até que, hoje em dia, é um elemento essencial em diferentes gastronomias.
Sabe-se hoje que o tomate é composto por 95% de água (!) e, nos remanescentes 5%, fibras e hidratos de carbono (um tomate tem em média 20cal), vitaminas do complexo A, vitaminas do complexo B, vitamina C, vitamina K1, Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e Potássio (K). Não é portanto surpreendente que os seguintes benefícios estejam associados ao consumo deste fruto:
- Saúde cardíaca: ajuda a diminuir a pressão sanguínea, o colesterol e os níveis de stress;
- Saúde óssea: proteção de ossos e dentes e prevenção da osteoporose e osteopenia;
- Saúde dérmica: o licopeno (pigmento com propriedades antioxidantes) auxilia a pele na resistência a queimaduras solares;
- Ação anticancerígena: uma vez mais o licopeno, associado às vitaminas A e C, assume um papel importante na prevenção do cancro da próstata, colorretal, do estômago e da mama;
- Saúde renal: a grande quantidade de água e a presença de potássio e antioxidantes ajuda na prevenção de cálculos renais;
- Saúde Pulmonar: há estudos que indicam que o consumo de frutos, nomeadamente o tomate, ajuda a diminuir o declínio da função pulmonar de um ex-fumador;
- Benefícios para os olhos e cabelo: a vitamina A, presente no tomate, associada aos também presentes betacaroteno e alfa caroteno (que o organismo converte em vitamina A), promovem uma boa visão, pele e cabelo;
- Aumento da massa muscular: o tomate, quando verde, disponibiliza tomatidina, uma molécula que inibe a atrofia muscular e promove a síntese proteica.
Dito isto, debrucemo-nos um pouco sobre o tomateiro, enquanto planta e cultura, e sobre o fruto.
Apesar de todas as plantas de tomateiro terem um comportamento arbustivo, há uma distinção base que, à partida, as torna mais ou menos aptas para cada intenção de cultivo: o tipo de hábito da planta. Por hábito entenda-se, de forma simplificada, a tendência de desenvolvimento/crescimento da planta durante o seu ciclo vegetativo. Podem identificar-se os seguintes:
× Indeterminado: plantas que podem atingir 20m de altura e cuja raiz principal pode chegar a 1,5m de profundidade; o tomate que produzem é normalmente destinado ao consumo em fresco, ou seja, é o tomate que encontramos à venda e utilizamos nas nossas refeições, cru ou cozinhado;
× Determinado: plantas que têm pouco desenvolvimento em altura e radicular (até 20cm de profundidade), às vezes apelidadas de “anãs”; Pela facilidade de mecanização deste tipo de plantas em grandes extensões de cultivo, os frutos são habitualmente utilizados pela indústria para todo o tipo de transformação (polpa, ketchup, tomate pelado, tomate desidratado, entre outros).
Tomada a decisão sobre que tipo de planta se adequa melhor aos seus planos, é necessário refletir sobre que tipo de fruto pretende colher. E aqui, a escolha pode recair sobre os seguintes:
Definido o tipo de planta e escolhido o tipo de fruto, falta apurar o seguinte: cor e firmeza do fruto, características do sabor, capacidade de conservação... Para conseguir chegar a uma conclusão sugerimos o seguinte: escolha a cor! Depois disto, e já restringido o número de variedades disponíveis, consulte a informação relativa a cada uma delas e selecione a que melhor se adapta ao que pretende.
Se já sabe que tipo de planta e de fruto pretende, se já definiu a variedade que vai semear, falta o resto! Como semear o tomateiro e que cuidados terá que lhe prestar? Encontra em seguida um conjunto de informações, desde as preferências climáticas, solo, irrigação e nutrição, até às operações indispensáveis para que, depois de semear, colha o tomate que pretende.
Tome nota:
- O ciclo cultural do tomateiro (período desde a sementeira à colheita) tem uma duração que, consoante a variedade, oscila entre os 90 e os 110 dias;
- Para que a germinação da semente ocorra, a temperatura do solo deverá ser superior a 15ºC;
- Durante o ciclo vegetativo a planta não se desenvolverá com temperaturas inferiores a 10ºC ou superiores 30ºC, sendo que o intervalo ideal é entre os 20ºC e os 25ºC (um clima ameno favorece a polinização!); Se planeia semear numa zona onde se verifiquem grandes oscilações térmicas durante a noite, ou suscetível a geadas, antecipe a necessidade de a planta estar abrigada, nomeadamente em estufas;
- O tomateiro é uma planta que apresenta alguma sensibilidade à salinidade e prefere solos ricos em matéria orgânica, bem drenados, com um pH que se encontra entre os 6,0 e os 7,0; Pode encontrar substratos desenvolvidos para esta cultura aqui;
- A exposição solar é essencial para o tomateiro! Garanta que o posiciona num local onde a luminosidade seja abundante e preferencialmente direta;
- A rega deve ser frequente e de forma a que as raízes não sofram com stress hídrico (falta ou excesso de água). Terá que prestar muita atenção aos sinais que planta lhe dá…;
- Em termos de nutrição, o tomateiro é particularmente exigente. Quando fizer a sementeira, deve ponderar incorporar no solo um adubo orgânico; a planta exigirá, no período que decorre entre o início da floração e o vingamento dos frutos, maior disponibilidade de nutrientes, nomeadamente no que diz respeito a Azoto (N) e Potássio (K). Considere os seguintes valores para 100m2 desta cultura: 0,8-1,2Kg de Azoto (N); 3,0-4,5Kg de Fósforo (P); 1,0Kg de Potássio (K). Se pretender semear em vaso, encontrará soluções de nutrição específicas para tomateiros, tanto na forma granular como líquida, para esta fase. O Cálcio (Ca), Magnésio (Mg), Boro (B), Molibdénio (Mo) e Zinco (Zn) são igualmente essenciais para que a planta se desenvolva bem.
Falta ainda abordar dois aspetos: as operações culturais necessárias e a sanidade das plantas.
Relativamente às primeiras, indicamos a seguir, por ordem de execução, as operações necessárias nesta cultura:
> Sementeira
Qualquer sementeira deve ter em consideração as temperaturas que se verificam ao longo do ano. Consultando as indicações dadas anteriormente relativamente a este parâmetro, a esta cultura e tendo sempre em consideração as exigências de cada variedade, em Portugal é possível preparar as sementeiras em finais de Fevereiro, prosseguindo de forma escalonada até Abril (desta forma terá também colheitas escalonadas!). A sementeira deve ser feita em pequenos vasos, alvéolos ou em canteiro abrigado, cobrindo as sementes com até meio centímetro de solo/substrato e regando cuidadosamente em seguida, sem encharcar.
> Transplante
Uma vez que as plantas apresentem 15-25cm de altura e/ou 4 folhas, as mudas (solo/substrato +planta) devem ser transferidas do local de sementeira para o local definitivo onde se pretende a planta. O caule pode ser ligeiramente enterrado, beneficiando assim o desenvolvimento de um sistema radicular mais forte.
> Tutoragem
Esta operação deve ser feita 15-20 dias após o transplante e, como o nome indica, trata-se da instalação de tutores para a planta. Porquê? Porque, como vimos acima, as plantas de hábito indeterminado podem atingir vários metros de altura, sendo necessário garantir-lhes uma correta orientação e suporte no desenvolvimento. Os tutores podem ser canas, cordões, individuais ou cruzados, em torno dos quais se prendem as plantas, sempre apoiadas imediatamente abaixo dos ramos florais.
> Poda
Trata-se de mais uma operação a realizar apenas nas plantas de desenvolvimento indeterminado. Deve ser feita no período que decorre entre Maio e Julho, ou logo que verifique o amarelar de folhas. Semanalmente remova os brotos (rebentos) que surjam nas axilas dos ramos laterais, bem como elementos que debilitem a planta. Encontrará tutoriais online que o ensinam a proceder da melhor forma.
> Colheita
Sendo um fruto climatérico, o tomate pode ser colhido mesmo antes de estar maduro, uma vez que o processo de maturação (não de desenvolvimento!) prosseguirá na ausência da planta que o produziu. No entanto, quanto mais tempo de maturação o tomate tiver associado à planta, maior será a concentração de açúcares no fruto. Nas variedades determinadas a colheita poderá iniciar-se 7-8 semanas após a sementeira e, nas indeterminadas, aproximadamente 10-12 semanas após a mesma data. Se a sementeira tiver sido escalonada, a colheita será também faseada no tempo, prolongando assim o período em que pode beneficiar da produção. A técnica de colheita deve ser também adequada ao tipo de fruto em causa. Facilmente encontrará indicações online.
Abordemos, por fim, as questões de sanidade da planta. As condições de temperatura, humidade, luminosidade, o porte da planta e o cuidado que lhe é dedicado têm influência direta na probabilidade de surgimento de pragas e/ou doenças. No caso do tomateiro salientam-se as seguinte:
- Insetos: Bemisia tabaci (mosca-branca), Myzus persycae (pulgão), Tuta-absoluta (traça do tomateiro); A nocividade de alguns insetos, como os acima mencionados, manifesta-se de duas formas: ao alimentarem-se de diferentes órgãos da planta como folhas, frutos, caules, entre outros, provocam lesões que facilmente impedem o seu desenvolvimento; Por outro lado, os próprios insetos são vetores de doenças, funcionando como transporte entre campos e plantas, propagando assim vírus como o TYLC (Vírus do Enrolamento do Tomateiro) e o ToMV (Vírus do Mosaico do Tomateiro), entre outros.
- Fungos: Alternaria solani (Alternariose), Colletotrichum spp. (Antracnose), Leveillula taurica (Oídio), Phytophtora infestans (Míldio); Os fungos são de difícil controlo e podem ser detetados por um conjunto de observações na planta: manchas e/ou pontos de coloração cinzenta, esbranquiçada, amarela ou castanha, na parte aérea das plantas (folhas, caules), necrose de folhas e/ou de outros órgãos, perda de inflorescências, entre outros.
- Bactérias: Clavibacter michiganensis (Cancro do tomateiro), Xanthomonas campestris (Mancha bacteriana), Pseudomonas syringae (Pinta bacteriana); Podem ser detetadas pela existência de descoloração das folhas, lesões nos frutos, queda de flores, entre outros. Têm influência direta na sobrevivência da planta e na produção dela obtida.
Não se assuste! Qualquer cultura tem riscos associados e existem, hoje em dia, soluções que permitem a prevenção, o controlo e a moderação do impacto de alguns destes problemas. Pode encontrar exemplos aqui.
Esperamos que tenha ficado a saber um pouco mais sobre a cultura do tomate, mas deixamos, no entanto, uma ressalva: pesquise mais! Cada um dos aspetos aqui abordados pode ser desenvolvido ao detalhe! Uns com maior relevância técnica, outros como mera curiosidade. Informe-se tanto quanto sentir necessidade e, em seguida, experimente! Semeie, acompanhe e colha!
A equipa da Hortaria estará aqui.
Boas sementeiras! Bons cultivos!